O principal passo para cuidarmos da saúde emocional de nossos filhos.

03/08/2022

Porque é nas situações de crise que podemos formar filhos resilientes.

É muito comum eu ouvir a seguinte frase de muitos pais que me procuram: “Parece que não conheço mais meu filho... Até o ano passado, ele era de um jeito, nós nos dávamos bem, mas não sei o que aconteceu que agora não conseguimos mais conversar sem brigar...”. A pré-adolescência e a adolescência trazem muitas mudanças, mas mesmo na fase infantil esse desalinho ocorre com muita frequência.

Como pais, avós e educadores, sempre estamos atentos ao comportamento de nossos filhos, netos, crianças e jovens sob nossa responsabilidade. Ficamos rastreando suas ações, tentando entender seus pensamentos e motivações, mas às vezes nos frustramos, não é mesmo? Sentimos que não os entendemos mais em alguns momentos, ou que eles não nos entendem. E isso desestabiliza nosso mundo emocional. Como consequência, passamos a “dar tiros” para todo o lado: broncas, castigos, ameaças, ou nos vemos rendidos, de mãos atadas, sem sabermos mais o que fazer.

A grande questão é: estamos minimamente equilibrados para ajudarmos nossos filhos a se equilibrarem também?

Imagine a seguinte situação: você contrata uma pessoa para te ajudar a cuidar de suas finanças, mas descobre que ela está totalmente endividada, com o nome “sujo”, que nunca soube cuidar de suas próprias finanças. Você confiaria nela? Entregaria seu dinheiro para ela cuidar?

A hierarquia é muito importante e sempre deve ser considerada. É certo que nossos filhos precisam aprender a respeitar essa hierarquia, a nos respeitar como pais e educadores independentemente de qualquer outra questão. Porém, confiança não tem a ver com hierarquia diretamente. A hierarquia é herdada ou mesmo imposta, enquanto a confiança é construída.

Então, além de nossa hierarquia, precisamos construir um elo de confiança nos dois sentidos: para que nossos filhos confiem em nós, e para que confiemos neles também. Mas, para se construir confiança, alguns requisitos básicos são imprescindíveis. Como no exemplo acima das finanças, confiança só se constrói baseada em exemplos e não apenas em palavras.

É por isso que afirmo que o principal passo para ajudarmos nossas crianças e jovens a terem uma boa saúde mental é cuidarmos da nossa! Se estamos constantemente estressados, sem paciência, imersos nas telas, sem tempo para conversarmos, para rirmos e chorarmos juntos; ou se estamos sem energia, deprimidos, ansiosos, sem vontade de estarmos junto a eles, de brincarmos; ou mesmo se estamos nos sentindo mal conosco, culpados, amargos com a vida, preocupados demais... como os poderemos ajudar ou educar?

Mesmo as crianças bem pequeninas sabem quando estamos ou não em equilíbrio. E não há nada mais devastador para os filhos que o desequilíbrio dos pais de forma contínua. Vale ressaltar que o equilíbrio perfeito não existe, somos humanos e falhos e está tudo bem com isso. Porém, termos mais dias em desequilíbrio emocional que dias bons faz mal para todos, assim como mudanças repentinas de humor, que deixam a todos desorientados.

E mesmo em situações de crise externa, problemas reais da vida, se mantivermos uma boa saúde emocional (interna), conseguiremos sair mais resilientes e ensinar isso aos nossos filhos com nosso exemplo. Mesmo nos desequilibrando de vez em quando, quando temos uma boa saúde emocional, conseguimos detectar mais rapidamente para nos reorganizarmos, e isso também educa nossos filhos pelo exemplo. Os problemas virão, as crises virão, assim como também os presentes diários da vida que estão aí a todo momento. Não temos que mostrar aos nossos filhos que somos invulneráveis, isso os afasta de nós. Mas podemos lhes dar de presente nosso exemplo de luta com boa saúde emocional. Isso sim gera confiança, diálogo, aproximação, respeito.

Então, faça uma autoanálise com sinceridade e veja se na maioria dos dias se sente mais equilibrado ou em menos harmonia com a vida. Se a balança pender mais para o lado negativo, busque ajuda para identificar quais pontos podem ser trabalhados para você melhorar sua saúde emocional. Aí sim você estará mais preparado para ajudar suas crianças e jovens a melhorarem as deles.

Até a próxima!
Cuide-se bem, sempre!

 

Carina Roma é Psicóloga Clínica, Neuropsicóloga e Especialista em Dependências Tecnológicas. Atua há 16 anos como Psicoterapeuta de jovens e adultos e Orientadora de Pais e Educadores. Conta com mais de 10 mil horas de atendimento a clientes de mais de 10 países. É casada há mais de vinte anos e tem três filhos, dois deles biológicos que hoje são adolescentes – Artur e Henrique - e uma do coração, na verdade sua irmã Natália que tem Síndrome de Down, mas que é considerada como filha querida desde que passou aos seus cuidados. Seu principal foco de trabalho é ajudar a melhorar a saúde mental e emocional das pessoas na nova era digital.